segunda-feira, 9 de julho de 2012

A modos que..

Que faz um ano desde que escrevi o meu manuscrito deambulante e subterrâneo, o qual teve exactamente 37 leitores (contados a dedo e entrevistados pessoalmente) e ZERO vendas online. 


Apesar desta desgraça, e como é mais forte do que eu, creio ter um novo bebé a nascer brevemente, não será necessariamente nos mesmos moldes do anterior ("I don't like to repeat myself", como já dizia a outra...), mas será algo... assim... contínuo. E bom. E sem limites, como nós gostamos.

sábado, 23 de junho de 2012

Apanhado musical dos últimos tempos


Patti Smith - Banga - mais do que cumpre as expectativas. Patti Smith de volta à poesia em forma de música, depois de ter feito um pouco de tudo nos últimos tempos (desde aparecer num filme de Godard até ter escrito um livro sobre a sua relação com o fotógrafo Robert Mapplethorpe). Um álbum de viagens e de pessoas, vivas e mortas, a descobrir e descamar.  


Saint Etienne - Words and Music By Saint Etienne - é muito difícil dizer mal desta banda e deste álbum. Sempre vi estes três senhores como três "geeks" musicais com um toque de tios excêntricos que nos oferecem as prendas que mais ninguém se lembra. E depois porque há muitos anos que não se ouvia maior elogio ao amor pela música (basta para tal ouvir os minutos iniciais de "Over the Border", com linhas como "I used Top of the Pops as my world atlas"...), e através deste manifesto tão meta, "Words and Music" consegue desde logo conquistar-nos. Mas Sarah Cracknell, Bob Stanley e Pete Wiggs têm também na manga pop deliciosa a acompanhar, que consegue transitar, como já nos habituaram, entre todos os géneros que popularam a boa pop nos últimos 40 ou até 50 anos...

e por falar em bandas que ainda não desiludiram...
Hot Chip - In Our Heads - é outro magnífico testamento pop, um álbum que faz também ele cada vez mais sentido enquanto todo à medida que se vai escutando mais, que faz com que a banda de Alexis Taylor, Joe Godard e companhia se torne claramente numa das minhas bandas favoritas nascidas na ultima década.

Sebastien Tellier - My God Is Blue - tem o ar mais próximo a um Giorgio Moroder, e a sexyness de Serge Gainsbourg. Musicalmente, Tellier tem uma mistura explosiva de ambos, e volta a mostrar ao mundo pós-Donna que é um dos salvadores do género. Já se endeusaram artistas por menos. Muito menos.

Fiona Apple - The Idler Wheel yadda yadda yadda - é precisamente o que se esperava de um regresso de Fiona Apple, nem mais nem menos. Talvez um pouco mais de maturidade, sim, letras bem diretas. Mas "Tidal" já as tinha há 16 anos atrás, a malta parece esquecer-se...Uma pessoa não fica nada desiludida, mesmo com a falta de facilidades e do excesso de subtileza a pontos.

Kimbra - Vows - mais uma bela importação vinda da Oceania (depois de Gotye). Audaciosa, dotada de uma voz preciosa e moldável e de 435 ideias para um só álbum, Kimbra torna-se aqui numa grande esperança também para a "salvação da pop" no sector feminino. Depois de Janelle Monae, e agora com esta Kimbra, Prince pode sorrir. 

Dexys - One Day I'm Going To Soar - para mim este sim o regresso do ano e um dos álbuns incontornáveis de 2012. 27 (!) anos depois do último álbum, a fazer provar a bandas igualmente velhas como os Ultravox (com um decente mas enjoativamente estagnado "Brilliant") que os milagres musicais acontecem. E que do antigo pode nascer algo completamente intemporal. Basta não ter barreiras. E este álbum não as tem. Estamos praticamente perante um musical estouvado em três actos, sobre um frustrado amoroso (Kevin Rowland, ele próprio!), e a sua vida cheia de altos e baixos - a certa altura, apercebemo-nos que não é só dos relacionamentos amorosos, mas também do seu relacionamento "sui generis" com a sua "banda" (agora com algumas substituições) e o uso da música como catarse que nos fala. Em termos temáticos, não estamos longe do território de uma Fiona Apple portanto. Um álbum que também não se entra a 100% à partida, e que fará muito mais sentido para quem conhece a banda de antemão e cresceu a ouvir os gloriosos 12 minutos de "This is What She's Like" em vez de um "Come on Eileen" apenas...





domingo, 27 de maio de 2012

The 80s - Ahead of the curve

Se os novos românticos eram os tipos populares, bem vestidos e pintados de acordo com as últimas tendências, estes 17 artistas/bandas/projectos eram os verdadeiros rebeldes da zona. Desafiaram a norma numa década em que a norma era já em si plena de criatividade... E sim, repito Kate Bush porque posso, e porque soube ser uma senhora da pop E uma mulher constantemente à frente do seu tempo.

Kate Bush - Sat In Your Lap

Laurie Anderson - O Superman

Throwing Muses - Hate My Way


Roxy Music - Running Wild


John Foxx - Underpass


Japan - Methods of Dance



Grace Jones - I've Seen That Face Before (Libertango)


Dexys and the Midnight Runners - Geno



Cocteau Twins - Carolyn's Fingers


Peter Gabriel - Mercy Street


Prince - U Got The Look


This Mortal Coil - Tarantula 


Talking Heads - Burning Down The House


Young Marble Giants - Music For Evenings


The Blue Nile - Easter Parade


Brian Eno - An Ending (Ascent)


Talk Talk - I Believe In You



sexta-feira, 25 de maio de 2012

The 80s - New Kids, New Toys

Novas caras, novo som. Com os sintetizadores aprumados e geralmente bem vestidos e até com maquilhagens agora mais questionáveis, estes senhores sabiam o que faziam, ponto. 

Depeche Mode - Shake The Disease

OMD - Souvenir

A Flock of Seagulls - I Ran (So Far Away)

The Human League - Love Action (I Believe In Love)

Hall & Oates - I Can't Go For That

Duran Duran - Planet Earth

António Variações - Estou Além

Soft Cell - Say Hello, Wave Goodbye

Simple Minds - New Gold Dream

New Order - True Faith

Ultravox - Vienna


David Bowie - Ashes To Ashes


Tears For Fears - Mad World

sexta-feira, 18 de maio de 2012

O álbum perdido de Donna Summer



Chama-se "I'm a Rainbow". E apesar deste título tão... sugestivo, a sua história guarda uma das decisões mais crípticas vinda de uma produtora discográfica. 

Estávamos em 1981, e Donna Summer estava, podemos dizer confortavelmente, no pico da sua carreira, ainda a viver do sucesso esmagador do sublime "Bad Girls" de 1979. No ano anterior, Summer tinha tomado uma nova viragem, saindo do "disco" para uma roupagem mais new wave/rock (numa clara piscadela de olho a quem agora seguia Debbie Harry) no menos consensual "The Wonderer", mas ainda assim valendo-lhe fortes elogios (a Rolling Stone chamou-lhe na época o seu álbum mais consistente; e mais elogios brotaram de Robert Christgau e da publicação All Music Guide).  

"I'm a Rainbow" é, tal como os seus dois melhores álbuns ("Once Upon a Time" e "Bad Girls") um ábum duplo. A sua editora na altura (Geffen) decidiu metê-lo na prateleira, contra a vontade de Summer. Poderíamos por isso pensar que estávamos perante o início do fim para a cantora. E de certo modo, estávamos. Mas por erro da editora, porque a música aqui permanece tão forte e tão "avant-garde" como há um par de anos atrás. 

Em 18 temas, cabe praticamente tudo, e tudo a fazer um prognóstico de como viria a ser muita da música da década que então começava: ora temos baladas de dançar colado marcadas por um piano sintetizado ou um saxofone (e a maestria da produção de Giorgio Moroder), ora temos a continuação do som "new wave/rock" e Hi-NrG, e pelo meio há ainda espaço para gaitas-de-foles (!) - no hipnótico "To Turn The Stone", ritmos semi-orientais, um dueto com Joe Esposito, e uma "cover" sentida de "Don't Cry For Me Argentina", 15 anos antes da sua sucessora Madonna imortalizar de vez o tema. 

"I'm a Rainbow" marcaria infelizmente a última colaboração entre Moroder (e Bellotte) e Summer. Em 1982, Summer lançaria a continuação "oficial" de "The Wanderer", num álbum homónimo em colaboração com Quincy Jones (que produziu "Thriller" nesse mesmo ano) - este sim, um claro início de uma nova fase ("State of Independence" aparte). O álbum viria a ser lançado quinze anos depois, já quando Summer, já com a sua chama apagada, era tida "apenas" como a cantora de "I Feel Love" - isto quando alguém a reconhecia de nome... 

Não será um álbum tão virtualmente "perfeito" como os dois acima citados (faltará talvez um "flow" melhor entre canções; nem sequer se trata de um problema de remoção de temas, uma vez que merecem todos destaque, e ao mesmo tempo poucos se destacam por si só...), mas no que toca a álbuns perdidos/"emprateleirados", está certamente lá no topo. 

quarta-feira, 16 de maio de 2012

The 80s - The Girl Pop Movement

Ao longo dos próximos tempos, ofereço o meu top daquela que permanece a minha década favorita para a música (e não só). Não é por acaso que os 80s são ainda hoje fonte de inspiração. Não conseguindo arrumar bem um top 100 decidi dividir a coisa por blocos. Começando então pelas senhoras, e pela pop maravilhosa que conseguiram criar. Eis as minhas 13 músicas "pop" favoritas interpretadas por mulheres (excluo aqui para já grupos "mistos" com mulheres vocalistas e artistas que ache que não se enquadrem no género pop - mesmo nos 80s...):


The Go-Gos - Our Lips Are Sealed



Madonna - Like a Prayer



Kate Bush - Running Up That Hill



Kim Wilde - Kids in America



Cyndi Lauper - Time After Time



Pat Benatar - Love is a Battlefield



Donna Summer - State of Independence



Laura Branigan - Self Control



Janet Jackson - Escapade



Neneh Cherry - Manchild



Chaka Khan - I Feel For You





The Bangles - Walk Like an Egyptian



Stevie Nicks - Edge of Seventeen




terça-feira, 15 de maio de 2012

Sobre "Bloom"





Existem dois tipos de artistas:
a) Artistas chamados "camaleão", que se transformam álbum a álbum, explorando novos sons à medida que vão construindo a sua carreira (PJ Harvey, David Bowie, ...);
b) Artistas que se colam desde cedo a um som ou movimento.

Geralmente, a crítica musical possui um chavão que diz claramente preferir artistas do tipo A, obscuros ou não tão obscuros (os dois exemplos acima citados são prova disso). E digo geralmente, porque de vez em quando existe um lapso de lógica, e a mesma crítica que deita abaixo certos artistas por se repetirem, aplaude no minuto seguinte outros artistas por explorarem o mesmo som até à exaustão...


Atenção: não vou com isto pedir à classe jornalística a coerência que eu próprio muitas vezes não possuo. Até porque, na minha óptica, a música (e a arte no geral) deverá ser o último sítio para se pedir alguma lógica, chavões aparte. A música é para se ser sentida. A música é pessoal. Tem sempre uma história por detrás de determinada canção ou artista para contar... E todos nós temos as nossas "discriminações" pessoais com artistas, convenha-se. É humano. 


O que se passa é que em "Bloom", quarto álbum de Beach House (uma das minhas novas bandas favoritas dos últimos anos, saliente-se!), o sentimento encontra-se muito... abafado. 


Acho que todos conseguimos admitir, ao fim de quatro álbuns, que os Beach House são uma banda do tipo B. Nada de mal com isso, diria eu. Afinal, há quem possa argumentar que algumas das melhores bandas da história da música pop-rock o foram (Cocteau Twins, Siouxsie and the Banshees, etc.) - bandas que em muitos casos estiveram na base da invenção do seu som! O problema é quando à repetição não se acrescenta minimamente nada. Zero. E "Bloom" infelizmente padece desse mal de ser uma cópia chapada e deslavada do predecessor "Teen Dream" e de um outro ainda pior - falta-lhe momentos que se destaquem no ouvido, o que nunca, nem mesmo nos seus últimos álbuns, faltou à banda escocesa liderada por Liz Fraser, convenha-se. É tudo muito linear. E se a dupla Victoria Legrand e Alex Scally continua a fazer música "bela", agora está a fazer a música que os seus detractores sempre os acusaram:  indutora de estados narcolépticos - o que os seus apoiantes agora apelidam de "subtil". 


"Dream pop"? Sem dúvida. Mas desta vez o sonho é claramente mais interno.

5/10

terça-feira, 3 de abril de 2012

OVNIs Cinematográficos: Kissed



Há umas semanas atrás, chegou à internet um cartaz vindo dos EUA a propósito do filme “Vergonha” de Steve McQueen, tentando demover qualquer pessoa de ver o filme.


Não quero imaginar que tipo de cartaz sairia, se, por um mero acaso, o seu autor tivesse apanhado “Kissed” num cinema perto de si, há 15 anos atrás. Primeira obra da canadiana Lynne Stopkewich, “Kissed” permanecerá para sempre um OVNI obscuro, e a sua temática contribuirá em muito para essa obscuridade. O filme segue Sandra Larson (magnífica Molly Parker), uma rapariga que desde cedo desenvolve uma relação “especial” com a morte dos outros, que a levará eventualmente a querer partilhar mais do que é comum com um corpo morto...


Um dos grandes tr(i)unfos de “Kissed” é nunca impôr um julgamento sobre a sua protagonista e a sua parafilia, adotando quanto muito uma perspetiva pessoal, um olhar de dentro para fora. Para Sandra, conviver com um morto é como “olhar para o sol diretamente sem cegar”, e o filme cedo apropria (convenientemente) imagens mais etéreas aos seus encontros com cadáveres.


“Kissed” merece assim ser descoberto, nem que seja apenas uma vez. Pela sua ousadia, e pela sua capacidade de transformar um tema destes em algo romântico e poético, ora seduzindo, ora perturbando pelo caminho. Quem o vir, não o vai esquecer facilmente, ame ou odeie o produto final. E dificilmente ouvir-se-á “Fumbling Towards Ecstasy” de Sarah McLachlan do mesmo modo, para o melhor ou para o pior.


terça-feira, 20 de março de 2012

sábado, 11 de fevereiro de 2012

John Maus

ver abaixo e trocar "Visions" por "We Must Become the Pitiless Censors of Ourselves", 2012 por 2011, primeiro por enésimo.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Grimes



A pop eletrónica tem já praticamente quatro décadas, podendo-se atribuir um início à invenção do sintetizador. Dos tempos áureos de Kraftwerk e das colaborações deliciosas entre Giorgio Moroder e Donna Summer até 2012, tivemos já excelentes exemplos dos quatro cantos do mundo. E, com a chegada da era digital, com os instrumentos todos inventados, a grande invenção no género parece recair sobre as possibilidades de mexer com a voz humana, o outro grande instrumento essencial para a arte de fazer (boa) pop eletrónica. A ilusão de um homem/mulher-máquina nunca esteve tão perto.


O
projeto Grimes - fundado pela canadiana Claire Boucher (com apenas 22 anos) - pega nessa premissa. A voz extrema e pouco humana de Claire por si só lembra-nos um pouco Karin Dreijer Andersson (dos The Knife e do projeto paralelo Fever Ray). Mas não se pense que esta é música propriamente gélida... estamos, tal como no caso de Karin, perante um conjunto de canções não só bem orquestradas como nos parecem ainda instintivas, com pulso, capazes de surpreender. E que nos convidam, a cada escuta, a penetrar um pouco mais no seu mundo "chamber-gótico".

Não se tendo ainda a certeza se Grimes serão outro caso de sucesso como os suecos The Knife, ou se permanecem mais obscuros como uns Zeigeist, pode-se ao menos ter a certeza do seguinte: "Visions" é o primeiro álbum de 2012 capaz de abalar as contas finais do ano.

 

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