sexta-feira, 18 de maio de 2012

O álbum perdido de Donna Summer



Chama-se "I'm a Rainbow". E apesar deste título tão... sugestivo, a sua história guarda uma das decisões mais crípticas vinda de uma produtora discográfica. 

Estávamos em 1981, e Donna Summer estava, podemos dizer confortavelmente, no pico da sua carreira, ainda a viver do sucesso esmagador do sublime "Bad Girls" de 1979. No ano anterior, Summer tinha tomado uma nova viragem, saindo do "disco" para uma roupagem mais new wave/rock (numa clara piscadela de olho a quem agora seguia Debbie Harry) no menos consensual "The Wonderer", mas ainda assim valendo-lhe fortes elogios (a Rolling Stone chamou-lhe na época o seu álbum mais consistente; e mais elogios brotaram de Robert Christgau e da publicação All Music Guide).  

"I'm a Rainbow" é, tal como os seus dois melhores álbuns ("Once Upon a Time" e "Bad Girls") um ábum duplo. A sua editora na altura (Geffen) decidiu metê-lo na prateleira, contra a vontade de Summer. Poderíamos por isso pensar que estávamos perante o início do fim para a cantora. E de certo modo, estávamos. Mas por erro da editora, porque a música aqui permanece tão forte e tão "avant-garde" como há um par de anos atrás. 

Em 18 temas, cabe praticamente tudo, e tudo a fazer um prognóstico de como viria a ser muita da música da década que então começava: ora temos baladas de dançar colado marcadas por um piano sintetizado ou um saxofone (e a maestria da produção de Giorgio Moroder), ora temos a continuação do som "new wave/rock" e Hi-NrG, e pelo meio há ainda espaço para gaitas-de-foles (!) - no hipnótico "To Turn The Stone", ritmos semi-orientais, um dueto com Joe Esposito, e uma "cover" sentida de "Don't Cry For Me Argentina", 15 anos antes da sua sucessora Madonna imortalizar de vez o tema. 

"I'm a Rainbow" marcaria infelizmente a última colaboração entre Moroder (e Bellotte) e Summer. Em 1982, Summer lançaria a continuação "oficial" de "The Wanderer", num álbum homónimo em colaboração com Quincy Jones (que produziu "Thriller" nesse mesmo ano) - este sim, um claro início de uma nova fase ("State of Independence" aparte). O álbum viria a ser lançado quinze anos depois, já quando Summer, já com a sua chama apagada, era tida "apenas" como a cantora de "I Feel Love" - isto quando alguém a reconhecia de nome... 

Não será um álbum tão virtualmente "perfeito" como os dois acima citados (faltará talvez um "flow" melhor entre canções; nem sequer se trata de um problema de remoção de temas, uma vez que merecem todos destaque, e ao mesmo tempo poucos se destacam por si só...), mas no que toca a álbuns perdidos/"emprateleirados", está certamente lá no topo. 
 

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