sábado, 23 de junho de 2012

Apanhado musical dos últimos tempos


Patti Smith - Banga - mais do que cumpre as expectativas. Patti Smith de volta à poesia em forma de música, depois de ter feito um pouco de tudo nos últimos tempos (desde aparecer num filme de Godard até ter escrito um livro sobre a sua relação com o fotógrafo Robert Mapplethorpe). Um álbum de viagens e de pessoas, vivas e mortas, a descobrir e descamar.  


Saint Etienne - Words and Music By Saint Etienne - é muito difícil dizer mal desta banda e deste álbum. Sempre vi estes três senhores como três "geeks" musicais com um toque de tios excêntricos que nos oferecem as prendas que mais ninguém se lembra. E depois porque há muitos anos que não se ouvia maior elogio ao amor pela música (basta para tal ouvir os minutos iniciais de "Over the Border", com linhas como "I used Top of the Pops as my world atlas"...), e através deste manifesto tão meta, "Words and Music" consegue desde logo conquistar-nos. Mas Sarah Cracknell, Bob Stanley e Pete Wiggs têm também na manga pop deliciosa a acompanhar, que consegue transitar, como já nos habituaram, entre todos os géneros que popularam a boa pop nos últimos 40 ou até 50 anos...

e por falar em bandas que ainda não desiludiram...
Hot Chip - In Our Heads - é outro magnífico testamento pop, um álbum que faz também ele cada vez mais sentido enquanto todo à medida que se vai escutando mais, que faz com que a banda de Alexis Taylor, Joe Godard e companhia se torne claramente numa das minhas bandas favoritas nascidas na ultima década.

Sebastien Tellier - My God Is Blue - tem o ar mais próximo a um Giorgio Moroder, e a sexyness de Serge Gainsbourg. Musicalmente, Tellier tem uma mistura explosiva de ambos, e volta a mostrar ao mundo pós-Donna que é um dos salvadores do género. Já se endeusaram artistas por menos. Muito menos.

Fiona Apple - The Idler Wheel yadda yadda yadda - é precisamente o que se esperava de um regresso de Fiona Apple, nem mais nem menos. Talvez um pouco mais de maturidade, sim, letras bem diretas. Mas "Tidal" já as tinha há 16 anos atrás, a malta parece esquecer-se...Uma pessoa não fica nada desiludida, mesmo com a falta de facilidades e do excesso de subtileza a pontos.

Kimbra - Vows - mais uma bela importação vinda da Oceania (depois de Gotye). Audaciosa, dotada de uma voz preciosa e moldável e de 435 ideias para um só álbum, Kimbra torna-se aqui numa grande esperança também para a "salvação da pop" no sector feminino. Depois de Janelle Monae, e agora com esta Kimbra, Prince pode sorrir. 

Dexys - One Day I'm Going To Soar - para mim este sim o regresso do ano e um dos álbuns incontornáveis de 2012. 27 (!) anos depois do último álbum, a fazer provar a bandas igualmente velhas como os Ultravox (com um decente mas enjoativamente estagnado "Brilliant") que os milagres musicais acontecem. E que do antigo pode nascer algo completamente intemporal. Basta não ter barreiras. E este álbum não as tem. Estamos praticamente perante um musical estouvado em três actos, sobre um frustrado amoroso (Kevin Rowland, ele próprio!), e a sua vida cheia de altos e baixos - a certa altura, apercebemo-nos que não é só dos relacionamentos amorosos, mas também do seu relacionamento "sui generis" com a sua "banda" (agora com algumas substituições) e o uso da música como catarse que nos fala. Em termos temáticos, não estamos longe do território de uma Fiona Apple portanto. Um álbum que também não se entra a 100% à partida, e que fará muito mais sentido para quem conhece a banda de antemão e cresceu a ouvir os gloriosos 12 minutos de "This is What She's Like" em vez de um "Come on Eileen" apenas...





 

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