terça-feira, 9 de novembro de 2010

Filmes esquecidos: Os Amantes de Maria


O realizador russo Andrey Konchalovskiy é hoje em dia um nome completamente desconhecido até para cinéfilos mais atentos. Mas nos anos 80, era um dos nomes promissores da indústria cinematográfica norte-americana. "Runaway Train", "Shy People", "Duet for One"... "Tango & Cash" (eheh)... 

Konchalovskiy mudou-se para os Estados Unidos após aclamação na sua terra natal. "Maria's  Lovers" foi o seu primeiro filme em território americano, e desde cedo se revela algum estrangeirismo (e não é só nas personagens) nesta história de um ex-combatente (John Savage) que volta finalmente à sua terra e se decide casar com o seu eterno amor, a angelicalmente virgem Maria (Nastassja Kinski). Só que o amor que sente por  Maria não consegue ser consumado. 

O filme cruza traumas de guerra e desejo imaginado vs. desejo real, com algum simbolismo que não será propriamente muito subtil e até algum que nem se sabe até onde pode dar (uma rata ensanguentada....hmmmmmm). A imagem de uma cadeira num monte repete-se, lembrando o culminar de um amor, e um desejo não concretizado. Mas Konchalovskiy reune aqui uma sensualidade e erotismo desconcertantes de uma América que já não existe, num contraste curiosíssimo com a premissa do filme, e tem a sorte de ter actores não só para encorporar uma imagem de lúxuria anti-climática como dotados de todo um potencial dramático que empurra o filme para um patamar superior. Impossível não acreditar no amor que estas duas personagens sentem. E impossível não me perguntar o que é que terá acontecido exactamente às carreiras de John Savage e Nastassja Kinski para nunca terem levantado o voo merecido... 



domingo, 7 de novembro de 2010

Os Miúdos Estão Bem - e as mães?


Um dos títulos cinematográficos mais falados do ano foi mostrado em primeira mão ao público português ontem no Estoril Film Festival. "The Kids Are All Right" (em português "Os Miúdos Estão Bem" - vá lá, parece que alteraram o título anterior "Os Miúdos Estão na Boa"....) merece de facto todos os
elogios que se têm colocado. E não só por ser uma história de uma família nada convencional. Aliás, esse acaba por ser um elemento que vai aos poucos sendo normalizado - há aqui uma noção de chegar às massas que não denegride de todo o produto final. 

As duas mães, interpretadas por duas actrizes no topo das suas carreiras (Annette Bening e Julianne Moore), e os seus dois filhos, cada um concebidos com o (bom) esperma de Mark Ruffalo, formam afinal uma família bastante unida... pelo menos até ao dia em que mais um elemento entra nas suas vidas e começa a destabilizar. Uma histórica tipicamente americana, tipicamente humana, com o toque extra de humanidade e tacto que raramente se viu no ecrã nestas circunstâncias. As situações que o filme vai colocando são hilariantes e gritam por atenção, mas não da forma gratuita que nos vamos habituando a ver. O filme acaba por merecer as gargalhadas, e as personagens que as ocupam. E quanto às "peripécias" que vão surgindo e à resolução que o filme vai tomando, talvez o possível grande ataque que vai tendo dos poucos detractores, basta dizer que não me pareceram de todo forçadas, pelo menos não tão forçadas como qualquer "affair" que se veja no dia-a-dia...  a sexualidade humana é assim manhosa, afinal de contas.

A disfuncionalidade familiar revê-se agora num novo paradigma. Duas lésbicas também têm sexo (por vezes com os estímulos mais confusos). E também acabam por não tê-lo, na altura em que deviam ter. E também têm problemas maritais, como consequência disso. Quem diria... "The Kids Are All Right" não só é um melhores filmes de 2010 como sociologicamente cronica uma nova etapa de evolução humana no grande ecrã, à imagem do que um pequeno título como "Guess Who's Coming to Dinner" anunciava em 1967.  

 

Free Blog Counter