quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Almodóvar e Kate


Curioso no espaço de um dia ter ouvido o meu álbum favorito de 2011 e ter visto o que pode ser o meu filme favorito do ano. Ambos são respectivamente do meu realizador e artista favoritos (Pedro Almodóvar e Kate Bush), logo será muito fácil acusarem-me de parcialidade. Seja. Ambas as obras meticulosas, complexas, difíceis de ingerir, desasossegantes, mas profundamente recompensadoras a longo prazo. Ambos os autores foram já criticados em certos círculos por pisarem uma fina linha entre o génio e o ridículo, e por terem adoptado uma ligeira mudança de estilo recentemente. Almodóvar está mais frio/negro, e Kate... bem, encontrou refúgio no frio, com canções que se estendem no horizonte.



O que é curioso observar é que ambos os trabalhos representam um culminar dos mundos previamente explorados por ambos os artistas nas suas três décadas de carreira. Almodóvar, mais prolífico, teve duas fases essenciais: uma "imatura" que durou até ao início da década de 90, e outra "madura" que teve o seu auge em filmes como "Tudo Sobre a Minha Mãe", "Fala Com Ela" e "Voltar". Neste "A Pele Onde Eu Vivo", encontramos não só um humor e uma bizarria que já não víamos no cineasta desde "Kika" (a sequência do "super-tigre" que viola Vera é claramente reminiscente da cena em que Kika é violada pelo actor porno Pablo!), misturada com uma precisão e maturidade só vista nos filmes que realizou na última década. Isto tudo formando um novo pacote - não só o seu filme mais díficil, como quase que fazendo parte de um novo (terceiro) género de filme para o cineasta.



Do mesmo modo, em "50 Words for Snow" encontramos uma condensação de tudo o que se passou anteriormente - ouvem-se ecos de álbuns como o anterior "Aerial", mas também "Hounds of Love", "The Dreaming" ou "The Sensual World", o que faz com que este álbum seja uma progressão natural do seu trabalho anterior, para algo que ainda não tinha feito ainda. Desde o tamanho das canções, que aqui lembram também Talk Talk no seu período final, até a novas ideias conceptuais ainda não propriamente exploradas - incluindo uma história de amor entre uma mulher e o seu boneco de neve, e uma faixa-título que precisa de ser ouvida para ser acreditada (basicamente são "arranjadas" 50 "palavras" para neve, tal como o título sugere, numa quebra completa da estrutura clássica de uma canção).

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"A Pele Onde Eu Vivo" pode ser visto a partir de hoje num cinema perto de si. "50 Words for Snow" está disponível para stream no site NPR em: http://www.npr.org/2011/11/13/142133269/first-listen-kate-bush-50-words-for-snow?ps=mh_fl e estará à venda a partir da próxima semana

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