quinta-feira, 18 de março de 2010

Head First - crítica



Era para só escrever um comentário no fim-de-semana, mas após observar o preconceito inerente e hipocrisia em críticas ditas "profissionais" de magazines que já deram nota máxima a álbuns da Mariah Carey (não vale a pena xutar nomes), decidi adiantar-me.

"Head First" é o quinto álbum de Goldfrapp, que para quem ainda não saiba, é um duo composto por Alison Goldfrapp e Will Gregory, e não apenas a primeira, e não apenas a primeira a cantar e o segundo a mexer nuns instrumentos. É um trabalho de verdadeira cooperação, como a música pop mais alternativa não via  num duo desde os bons tempos (sobretudo iniciais)  dos Eurythmics. 


Nos últimos 10 anos, Alison e Will trouxeram-nos um primeiro ovni musical ("Felt Mountain"), seguido de um segundo álbum completamente diferente, já a brincar com o electrónico ("Black Cherry"), e outro com glam à mistura ("Supernature"). Como se não estivessem ainda satisfeitos, ao quarto álbum voltaram-se para um folk psicadélico reminiscente de uns Beatles, com uns vocais que por vezes faziam lembrar Liz Fraser dos Cocteau Twins - o magnífico "Seventh Tree". 

Quintos álbuns são geralmente uma sentença de morte do artista. Sobretudo quando recusam seguir as regras do negócio, e vão alienando facções a facções com cada rumo diferente que seguem. Sobretudo quando a editora pede já um "Greatest Hits"...

Se fossemos a reduzir, diriamos que "Head First" seria um retorno aos tempos electrónicos de "Black Cherry" e "Supernature". Errado. O álbum usa desta vez os sintetizadores para atingir um efeito verdadeiramente jubilante e optimista, mas por outro lado, mais fácil de ser atacado por cínicos que um gajo a cantar Rod Stewart como serenata ao seu amor. 

Alison está verdadeira apaixonada - como os tablóides fizeram questão de salientar e esmiuçar, por uma outra mulher, sim. Talvez todo o álbum seja uma prova de que se podem fazer álbuns magníficos a partir do amor, e não só a partir do desgosto. 


"Rocket", o primeiro single, usa sintetizadores que parecem ter sido tirados de Van Halen. Ao longo de 9 faixas que passam num instante, o álbum referencia nomes que vão desde os ABBA (sendo a faixa título o maior exemplo), Olivia-Newton John, Laura Branigan, ELO, Billy Joel até Suicide, Laurie Anderson, Vangelis (faixas "Shiny and Warm" e "Voicething" respectivamente) , Kate Bush e Giorgio Moroder ("Hunt"), e por aí adiante. Ou seja, basicamente todo o espectro de uma década, com uma enfase arriscada no que hoje é considerado "queijoso" ou "azeiteiro". Alvo fácil, portanto. 

Se Alison e Will decidissem jogar pelo seguro, certamente não se teriam metido por estes terrenos. Jogar pelo seguro aqui seria refazer qualquer um dos outros álbuns, ou ficar-se pelo lado consensual dos 80s. A verdade é que até à altura, Goldfrapp permanecem um dos maiores grupos da cena contemporânea (e o meu duo favorito de sempre) por um grande motivo: nunca repetiram um estilo, e no entanto o álbum seguinte soa sempre como uma "progressão" do anterior (embora "Felt Mountain" ainda seja justamente posto num nível superior). E sendo assim, temos missão mais que cumprida, mais uma vez. :)

 

1 comentário:

Bruno disse...

Parabéns pela análise. De todas as que li (provavelmente algumas delas deram nota máxima ao álbum da Mariah Carey :P ), a tua é a única que consegue enxergar para além da primeira audição e do preconceito.

 

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