sábado, 6 de fevereiro de 2010

Avatar e o seu espaço


Imagem de King Kong (1933)


"The last time I came out of a movie feeling that way it was the first time I saw Star Wars."
Steven Spielberg


"King Kong", "Star Wars", "Jurassic Park", "Matrix"... o que têm estes filmes em comum? 

Muito se tem falado por parte dos detractores de Avatar/James Cameron, que "Avatar" não representa um avanço tão grande para o cinema por falta de substância narrativa. Melhor, por excesso de evidência no conceito de "bem" vs. "mal". (neste caso, bem = o povo de Na'Vi; mal= raça humana) 

Em primeiro lugar, pergunto se as mesmas pessoas a criticarem esta nova versão justificadamente "pulpy" de Pocahontas seriam outras semelhantes (nos seus respectivos tempos) a não ficarem impressionadas com um gorila gigante a atravessar Nova Iorque a fugir dos mauzões dos exploradores, só por questionarem a unidimensionalidade destes. E poderíamos igualmente destroçar os argumentos ou caracterização dos personagens dos restantes filmes acima citados, "Matrix" incluído.  

Interessa por isso colocar este "Avatar" em perspectiva. "Avatar" pode prometer - e cumprir (!) - um avanço tecnológico brutal, abrindo literalmente uma nova dimensão ao espectador. É certo que James Cameron não inventou propriamente a tecnologia 3D - apenas fez o maior uso dela, e trouxe-a a centenas de milhões. Mas nisso estaremos de acordo. 

O que coloca o filme de Cameron a par dos filmes listados acima, é a sua experiência imersiva num novo mundo. E por aquelas três horas, temos a sensação que, não fossem as náuseas advindas do efeito 3D e do próprio cansaço dos olhos, ficaria ali mais horas.  Talvez aqui se explique as depressões relatadas, e o facto de à setima semana, a sessão onde fui continuar esgotada. 

"Avatar" não precisa de outros espaços para se comparar, é certo. Muito menos espaços longínquos, provenientes do cinema de autor que em nada se comparam ao que assistimos aqui. 

"Avatar" é, no entanto, tanto o passado do cinema como o seu futuro. O passado da ficção "pulp", dos super-heróis, do bem vs. mal, da mensagem político-ecológica explícita também, sim. Acima de tudo, o passado da experiência cinéfila pré-cinismo, pré-adulta para os que eram ainda muito novos nos 70s ou 90s - para mim um retorno ao visionamento de filmes como "Jurassic Park", um dos meus filmes favoritos de pré-adolescência por sinal.  

Será um filme menor automaticamente por usar lugares comuns da ficção? Então exclua-se já 90% do cinema, todo ele baseado em arquétipos e clichés. O cinema não é, ou não deve ser, uma fórmula de soma de parcelas, deve ser acima de tudo, e no caso particular do cinema espéctaculo, um escape à realidade, um maravilhamento colectivo.  E isso, meus caros amigos, "Avatar" fá-lo com uma magia que julgava já não ser possível no cinema moderno. 

1 comentário:

If God is a DJ, life is a Dancefloor disse...

Muito bom seu post. Não tinha gostado muito do filme quando vi, mas sua perspectiva me ajudou a vê-lo de outra forma ;)

 

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