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Bridget Fonda, onde estás tu?
O comentário maior a fazer à noite de ontem é: bom espectáculo para vencedores tão previsíveis.
Vou-me abstrair de comentar mais sobre Slumdog Millionaire, o filme e o fenómeno. Dizer apenas que as duas vitórias de Milk deram não só reconhecimento merecido ao filme como tempo de antena vital (num dos eventos mais vistos em todo o mundo) para a reinvidicação dos direitos LGBT. E por causa disso, e com pena por outros nomeados igualmente merecedores (Mickey Rourke, Happy-Go-Lucky), valeram a noite.
Chama-se Marissa Nadler e apareceu não uma mas duas vezes esta tarde (qual aparição) na bendita rádio dos meus vizinhos do last.fm.
É um nome para descobrir mais nos próximos tempos, sem dúvida.
Entretanto:
Parece que é algo obrigatório no início de uma conversa, antes de se falar do tempo, do resultado do Benfica, do episódio de ontem à noite da novela ou de como correu o exame que se fez.
"olá"
"como estás?"
ou
"ola"
"td bem (ctg)?"
Muitas das vezes pode até ser justificada e sentida(!) esta frase. Quando já não vemos uma pessoa há muito tempo (digamos semanas, meses, ANOS), ou quando esta acabou de passar um período terrível.
Mas quando se fala com a mesma pessoa diariamente, já parece menos verdadeiro. Não sei se é da repetição constante das palavras, que cansam inevitavelmente. Eu próprio fiz e tenho a impressão que continuo a fazer isto, nem que seja o obrigatório "sim...e contigo?". Mas porquê? Será mesmo sentido muitas das vezes? Fará mesmo sentido? Será que não se pode passar logo ao que se quer?
Pior que a pergunta, é a resposta obrigatória "Sim", com ou sem reticências (não que seja um pormenor dispensável - faz até toda a diferença). Antes as reticências. Mas sim, cheguei a uma fase em que só me apetece dizer "Não. Estou na merda, a recuperar mas ainda doente de não sei bem o quê... só sei que deito coisas ranhosas por todos os buracos. E ainda por cima, sinto-me profundamente sozinho apesar destas múltiplas conversas de ocasião em múltiplas janelas de messenger."
Será que estou a atravessar uma fase demasiado anti-social e anti-cliché?
No entanto, "Revolutionary Road" - também ironicamente uma adaptação de um romance escrito há praticamente meio século (logo antes desta vaga de suburbios e famílias/casais disfuncionais), mostra-se apto em filmar a queda de um sonho, abortado.
É um filme que consegue lidar com tamanho fardo, e remeter para um género melodramático de outros tempos.
Foi injustamente categorizado como um simples filme de actores, ou então um reencontro das estrelas de "Titanic".
É certo que o elenco (nomeadamente o duo Winslet e DiCaprio) é cada vez mais brilhante nas suas composições visto em retrospectiva, mas há que dar crédito a Mendes e sua equipa(banda sonora, fotografia, guarda-roupa e direcção artística saltam logo à vista), por criarem um ambiente credivelmente asfixiante, ao ponto de não ser propriamente fácil entrar ali.
Não é por acaso que nos primeiros minutos, embora interessantes, sente-se que falta ali algo, tal como April sente. É no final que realmente nos apercebemos que aquela sensação de estar algo "off" se adequa assustadoramente à história daquela personagem.
É um filme menos imediato que "Beauty", mais agonizante, deprimente, com menos margem para humor negro (embora ainda o tenha). Apesar da sorte menos feliz nos Oscars, onde arrecadou apenas 3 nomeações e espera-se que saia de mãos a abanar, este é um daqueles filmes que deverá ganhar com o tempo. Ou pelo menos assim espero.
Triste antipatia alheia
Feliz coincidência que me rodeia
Carrego o fardo da consciência
Que me faz sentir quando não quero
Em vez de querer não sentir
Mas porque viver é sentir
Acato a responsabilidade adquirida
E mesmo sofrendo as amarras da razão
Também tento desfrutar a vida
Detesto (DETESTO) quando sinto que estou prestes a cometer algo pecaminoso num sonho e de repente sou acordado.
Já nem em sonhos...