sábado, 9 de março de 2013

Os últimos truques do mágico-camaleao


Há um paralelo a traçar entre a teia não linear de "Efeitos Secundários", e a trajetória igualmente não linear e camaleónica da carreira de Steven Soderbergh, um dos maiores artistas (no verdadeiro sentido da palavra) que a sétima arte deu a conhecer , capaz de saltitar entre géneros cinematográficos, e entre cadeiras (ele é realizador, diretor de fotografia, é o homem da montagem, ... ).


E por isso que seja curioso que "Efeitos Secundários", conto bem ácido sobre os nossos tempos (como foram quase todos os seus filmes, disfarçados de outras coisas) - aqui a picar muito a indústria farmacêutica e a especulação financeira, seja um belo resumo de um cineasta, que, usando tantas máscaras, manteve sempre a sua identidade bem intacta.

Nele acompanhamos uma jovem (Rooney Mara, ainda melhor aqui que quando andava cheia de piercings e tatuagens) que experimenta uma droga, perdão, um anti-depressivo com aval do seu psiquiatra (Jude Law), que poderá causar...  a morte. 

Correndo o risco de falar demasiado, toques do já esquecido "Malice" moram aqui, assim como muito do cinema paranoico/psicológico do passado, e claro do Mestre Alfred Hitchcock, o qual ficaria sem dúvida orgulhoso deste pupilo prestes a abandonar o hábito. 

Eis o efeito principal que este filme nos apresenta: estupefacção pelas suas reviravoltas honestas e surpreendentes, e alegria por estarmos na presença de um pequeno génio que aprendeu todos os truques e agora mostra-nos com a maior confiança do mundo, o que sabe fazer, antes de sair pela porta principal... Nas mãos de um tarefeiro, a coisa daria para o torto, certamente. Nas mãos do mago ultra-confiante Soderbergh, todas as puxadas de carpete são naturais e deslumbrantes na sua lógica interna, e na maneira como em plena era cínica, nos conseguem remeter para momentos passados, mais inocentes, onde eramos genuinamente surpreendidos pelo que observávamos. 

Se esta for mesmo a sua despedida, Soderbergh sai pela mesma porta grande onde entrou. 

1 comentário:

Miguel disse...

É uma pena, de facto, que o Soderbergh deixe de fazer filmes. Por cá, tenho o Behind the Candelabra para ver e a promessa de uma série televisiva a ansiar. A ver vamos. O olhar peculiar, frio e clínico deste senhor apraz-me bastante e até é pena que o tenha verdadeiramente descoberto tão recentemente, com Contagion.

 

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